26/04/2018


Quantas vezes procurei a felicidade do outro lado da montanha, porque pensava que do outro lado era "mais, melhor, bom". Como não encontrei o que procurava, regressei e dediquei-me a procurar perto de mim, dentro de mim, nas coisas simples da vida...


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A vida é doce apesar da chuva


Dei de caras com a felicidade no outro dia.
Passeando no parque.
Deitei-me na relva, tirei os sapatos, o sol aquecia.
Observando a relva, vi uma nuvem aproximar-se, depois outra, e depois outra.
Esconderam o sol.
Começou a chover.
Corri descalça para me abrigar, debaixo de uma castanheira.
Roguei...
...pragas a este país, só mesmo neste país.
Pelo meu tronco uma pesada tristeza descia.
Uma escuridão imensa o céu invadia.
Mas uma caracoleta aparecia.
Espreitava por detrás de um pedregulho e sorria.
Chovia.
Quanto mais chovia, mais a caracoleta se expandia.
Feliz pela chuva que caía.
Às tantas deu de caras com uma lagarta que sorria
Chovia.
Quanto mais chovia, mais a cabeça da caracoleta subia.
Mais a lagarta da folha descia.
Juro que as vi dançar, o rock n' roll ou um corridinho, já não sei, pouco importa, juro.
Todo o meu corpo se movia.
Dancei, eu sei que dancei.
Pelo meu tronco qualquer coisa leve subia... parecia...alegria...

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16/04/2018

Sonhar


Um dia disseram-me para eu não sonhar, porque estava a desperdiçar tempo. E eu nunca mais sonhei. Guardei as asas e nunca mais voei. Assim fui apagando em mim todos os sonhos de criança, e os anos foram passando, passaram a correr. Depois vieram os obstáculos e os desafios, os sonhos foram substituídos por medos. Tornei-me expectadora no palco da minha vida, porque desse lado pensava estar mais segura.
Há poucos anos atrás tive um sonho enquanto dormia. Daqueles que entram na nossa memória sem pedir licença para entrar, daqueles que não dá para nos esquecermos dele, pela sua intensidade, mesmos que queiramos. Um cantor puxava-me para subir ao palco e cantar para um público. Subir ao palco e cantar? Tive medo, mas já estava em cima do palco. Quando me virei para cantar, estava no topo de um rochedo e o público era agora um imenso oceano que se expandia à minha frente, com toda a sua beleza, com toda a sua força.

Abri as asas e voei.  Assim nasceu este desenho.

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12/04/2018


Desejos de uma menina

Já não me lembro o que saiu primeiro, se o texto ou o desenho.  Penso que foi o desenho.  Há muitos anos atrás, quando desejava que a minha mãe parasse com as tarefas domésticas que o mundo lhe dizia que lhe pertencia, para podermos estar um momento juntas.  A minha mãe vivia a mil à hora, pensava que não tinha escolha.  Hoje resisto a essa coisa do viver a mil à hora.  Pouso tudo, e deixo que a menina que vive ainda dentro de mim me diga o que deseja, hoje, nem que seja só hoje.

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Mãe, deixa-me contigo hoje, nem que seja só hoje, passear à borda do mar, admirar o vôo harmonioso das gaivotas, sentir no corpo o sopro quente do vento, partilhar a alegria infantil de apanhar conchas, guardá-las como se fossem tesouros, saltar com leveza ao pé coxinho, sentar-me na areia da praia, recitar versos, cantarolar cantigas, dar gargalhadas até doer a barriga, construir um castelo de areia, embarcar numa história de piratas, desenhar corações na areia, nadar na liberdade do mar, pôr-te os dedos entre o teu cabelo emaranhado, desfazer esses nós amargos que a vida lhes dá, reanimar nos teus olhos esse verde de esperança. respirar fundo, encher os pulmões de maresia, e observar as ondas transportarem para outros lados esta energia. Mãe, só hoje, nem que seja só hoje.

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