12/04/2018


Desejos de uma menina

Já não me lembro o que saiu primeiro, se o texto ou o desenho.  Penso que foi o desenho.  Há muitos anos atrás, quando desejava que a minha mãe parasse com as tarefas domésticas que o mundo lhe dizia que lhe pertencia, para podermos estar um momento juntas.  A minha mãe vivia a mil à hora, pensava que não tinha escolha.  Hoje resisto a essa coisa do viver a mil à hora.  Pouso tudo, e deixo que a menina que vive ainda dentro de mim me diga o que deseja, hoje, nem que seja só hoje.

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Mãe, deixa-me contigo hoje, nem que seja só hoje, passear à borda do mar, admirar o vôo harmonioso das gaivotas, sentir no corpo o sopro quente do vento, partilhar a alegria infantil de apanhar conchas, guardá-las como se fossem tesouros, saltar com leveza ao pé coxinho, sentar-me na areia da praia, recitar versos, cantarolar cantigas, dar gargalhadas até doer a barriga, construir um castelo de areia, embarcar numa história de piratas, desenhar corações na areia, nadar na liberdade do mar, pôr-te os dedos entre o teu cabelo emaranhado, desfazer esses nós amargos que a vida lhes dá, reanimar nos teus olhos esse verde de esperança. respirar fundo, encher os pulmões de maresia, e observar as ondas transportarem para outros lados esta energia. Mãe, só hoje, nem que seja só hoje.

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