Desejos
de uma menina
Já não me lembro o que saiu primeiro, se o texto ou o desenho. Penso que foi o desenho. Há muitos anos atrás, quando desejava que a minha mãe parasse com as tarefas domésticas que o mundo lhe dizia que lhe pertencia, para podermos estar um momento juntas. A minha mãe vivia a mil à hora, pensava que não tinha escolha. Hoje resisto a essa coisa do viver a mil à hora. Pouso tudo, e deixo que a menina que vive ainda dentro de mim me diga o que deseja, hoje, nem que seja só hoje.
Já não me lembro o que saiu primeiro, se o texto ou o desenho. Penso que foi o desenho. Há muitos anos atrás, quando desejava que a minha mãe parasse com as tarefas domésticas que o mundo lhe dizia que lhe pertencia, para podermos estar um momento juntas. A minha mãe vivia a mil à hora, pensava que não tinha escolha. Hoje resisto a essa coisa do viver a mil à hora. Pouso tudo, e deixo que a menina que vive ainda dentro de mim me diga o que deseja, hoje, nem que seja só hoje.
Mãe,
deixa-me contigo hoje, nem que seja só hoje, passear à borda do
mar, admirar o vôo harmonioso das gaivotas, sentir no corpo o sopro
quente do vento, partilhar a alegria infantil de apanhar conchas,
guardá-las como se fossem tesouros, saltar com leveza ao pé
coxinho, sentar-me na areia da praia, recitar versos, cantarolar
cantigas, dar gargalhadas até doer a barriga, construir um castelo
de areia, embarcar numa história de piratas, desenhar corações na
areia, nadar na liberdade do mar, pôr-te os dedos entre o teu cabelo
emaranhado, desfazer esses nós amargos que a vida lhes dá, reanimar
nos teus olhos esse verde de esperança. respirar fundo, encher os
pulmões de maresia, e observar as ondas transportarem para outros
lados esta energia. Mãe, só hoje, nem que seja só hoje.